11º Capitulo - 1º Parte - Surpresas

Finalmente acabei a 1º parte do 11ºcapitulo !

Espero que gostem desta porcaria...

 

Ainda estás com frio? – Perguntou depois de algum tempo.

Desde que nosso primeiro beijo ocorreu resolvemos ficar parados somente a aproveitar a presença um do outro. Estávamos deitados na areia da praia, ainda de frente para o mar e escondidos pela grande rocha que nos separava do resto da festa. Ian estava sentado com as pernas estendidas e eu estava deitada no seu colo protegida com os  seus braços num abraço apertado.

Balancei a cabeça em resposta à sua pergunta e ele abraçou-me mais. Ficamos assim por vários minutos até eu perceber que esse não era o propósito da festa. Tudo bem que ficar agarrada ao Ian e, pela primeira vez em muito tempo, sentir que alguém realmente estava a cuidar de mim e não o contrário era muito bom, mas eu levei-o aquela festa para nos divertirmos e isso não estava a acontecer. Eu já tinha chorado e o deixado-o aflito, discutimos e gritamos um com o outro, agora estava tudo bem, mas não significa que nos estávamos a divertir.

- Queres dançar? – Perguntei tempos depois.

Ele parou de olhar o mar e fintou-me.


- Tu não podes fazer esforço com o pé.

- Não estás a ajudar. – Respondi calmamente.

- O que é que estás a tentar fazer? – Sorriu divertido.

- Só queria que nos  divertissemos. – Mandei os ombros para trás e olhei para cima onde o rosto dele estava muito perto do meu, mas ao contrário, como quando o homem-aranha beija a Mary Jane.

- Eu estou-me a divertir. – Respondeu e sorriu para mim.


- Não estamos a fazer nada de divertido. – Estar ali na praia não era o mesmo que estar numa festa de arromba.

- Eu acho divertido mexer nos teus cabelos.

Não disse mais nada. Não iria discutir o que é que para um era divertido e para outro não.

Afinal, para mim também não era mau.Muito pelo crontrario.

- Como é que é para ti?



- O quê? – Ele perguntou calmamente ainda mexendo nos cachos do cabelo.

- Como é que te sentes... assim a ser preseguido?

- É muito angustiante. – Respondeu no afinal.

- Explica mais. Como é que é afinal?

- Mais ou menos o que tu sentes, não?

- Eu sou eu. – Expliquei. – Quero dizer… Como é que é perseguir? Matar?

- Queres mesmo ouvir essa história?

- Quero. - Eu queria saber os motivos pelo qual ele contiunuava com isto…

- Quando os meus pais morrerem – disse lentamente – eu… eu ainda não tinha idade para perceber as coisas. – mais uma pausa – Vivia com o meu avo e as coisas passavam-me ao lado. Mas mais tarde, quando percebi que legalmente não era filho dos meus pais, desconfiai de alguma coisa. Disse á minha irmã e começamos a investigar. Até que fui falar com o meu avo.


- O que ele te disse? – Fiz questão de me levantar para escutar melhor a história, mas ele fez a força contrária e prendeu-me deitada em seu colo.

- Ele explicou-me, a mim e á minha irmã, que os meus eram cientistas e que não quiseram partilhar uma experiencia. E que … - e fez uma pausa, como se não quisesse ‘descair’ com alguma verdade -  a associação quis vingar-se, a ponto de os matar.


- Assim sem mais nem menos?

- Sim. Parece que eles tinham um contrato, e que a associação emprestou uma grande quantidade de dinheiro. Mas sabes o que é que dói mais?

Olhei para ele com um ar curioso.
- A vontade…- ele não tinha medo da verdade, mas sim do que eu interpretaria dela -  … de Matar…


Arrepiei quando ouvi essa palavra. Matar. Comigo o Ian não parecia agressivo nem raivoso, pelo contrário, tinha um senso de humor negro e gostava de fazer piadinhas e acariciar os meus cabelos embora às vezes aplicasse alguma força. Mas o facto é que eu sabia. Eu sabia o verdadeiro EU dele. Ainda não o tinha visto, mas sabia que ele existia.


- Eu não sabia o porquê, mas quando soube tinha uma extrema vontade de destruir tudo em meu redor. – Continuou não percebendo a minha expressão temerosa.

- E …o Kyle?

 

- Nessa altura eu contei ao Kyle… porque a Miriam não estava… a reagir muito bem. E era muito amiga do Kyle, e eu também. Eu confio nele.

- E … a associação? Como é que descobriu?

 

- Não sei… Acho que se aperceberam que nós estávamos a invertigar, ou assim.

Lembrei-me do dia em que fiquei a saber da morte dos meus pais. Não esqueço a rapidez com que os meus joelhos cederam e atingiram o chão antes de eu colocar as mãos sobre o rosto, fechar os olhos e desejar que fosse um pesadelo; O ponto é que mesmo as pessoas por mais que demonstrem força, de alguma forma, os sentimentos acabam sempre por ganhar.



- A ira era a minha prisão e, aonde quer que eu fosse, não conseguia desviar-me dela. Depois descobri uns locais que eram frequentados pelo tipo de pessoa que eu estava á procura.

 

- Que tipos de lugares?

- Casas nocturnas, casinos ilegais, corridas ilegais pelas ruas durante a noite.

- E então? – Eu estava muito concentrada na sua história. Mas parecia que ele nem dava pela minha presença. Embora continuasse a acariciar os meus cabelos, olhava para o mar como se estivesse a recordar.

- Fiquei a saber de um homem, dono de um bar imundo, que tinha o hábito de apresentar pessoas

- O que queres dizer?

- Ele tinha um amplo conhecimento no ramo de apresentar pessoas capazes de tudo por um pouco de dinheiro para pessoas que precisassem de serviços sujos como este. Ele confessou ter marcado uma reunião entre um dos representantes da Associação e o infeliz que cometeu o crime.

- Porque é que que ele te contaria isso? – Perguntei sabendo que esse não era o tipo de coisa que as pessoas saiam a  gritar por aí.

- Obriguei-o.

Não quis imaginar as maneiras que ele usara para tal.



Ele dizia tudo isto sem o mínimo sentimento, apenas como se estivesse a relembrar tempos que, há muito tempo, se passaram. Ouvi as águas turbulentas a ir de encontro das rochas na escuridão quando ele fez uma pausa.


- Procurei o assassino Descobri que ele estava ligado a uma série de outros assassinatos que pareciam acidentes e que nunca eram levados adiante pela polícia. Investiguei-o e soube que era pago para cometer esse tipo de crimes. Provavelmente pago por diferentes pessoas. Um imundo.

Eu fiquei horrorizada. Talvez as pessoas tivessem certa razão quando falavam que eu vivia no meu próprio mundo de fantasia, por isso assustei-me quando fui trazida tão bruscamente à uma realidade tão fria e crua. Era vergonhoso que alguém se sujeitasse a esse papel. Matar pessoas que nem ao menos conhecem, derramar lágrimas de familiares inocentes e causar danos maiores como os danos psicológicos que causaram no Ian e tudo iso por causa de umas notas de papel.



- Depois que o encontrei comecei a investigar coisas mais pessoais. O que gostava de fazer, onde costumava ir, os seus hábitos, as suas preferências.

- Para quê?

- O meu avo deixou bem claro que eu não deveria deixar rastros. Eu não me importava de levar com a culpa, não me importava de ser capturado, não me importava de morrer. Eu não sentia medo do que minhas acções poderiam fazer.

- Então por quê....

- Acontecia isto às vezes comigo. Eu sou um tipo de pessoa calma, mas às vezes acumulo pequenas coisas que me enraivecem e, de repente, começo a agir como se fosse o Hulk.

- Porque é que não chamas-te a polícia? Quero dizer, tinhas provas suficientes, por que não envolveste as autoridades?

- Porque eu não queria que ele fosse preso. Eu queria vê-lo morrer, queria que confessasse tudo antes de seu suspiro final. Quis olhar bem nos seus olhos e ver-me reflectido neles observando todo o arrependimento por me ter arruinado.

- Mas agora… o assassino já está morto. Já podes parar, não?

 

- Não, Ree. Eu matei só que puxou o gatinho… não quem mandou e pagou.

Fiquei com medo ao ouvir estas palavras, mas tudo o que fiz foi, ainda deitada, passar os meus braços pelo seu abdómen num abraço. Eu não gostei de ouvir isto, decididamente não, mas eu estava disposta a fazê-lo mudar. Queria que parasse com essa perseguição inútil, não porque eu não sentia raiva das pessoas que lhe fizeram isso, não porque eu era uma nova versão da Madre Teresa, eu definitivamente não era santa, mas porque todo este ódio estava claramente a fazer-lhe mall. Eu conhecia-o á tão pouco tempo e já me importava demais com ele.


Ele tirou a mão que estava a descansar na areia e acariciou os meus braços presos no seu corpo.

- Tu estarias disposto a fazer-me um favor? – Perguntei levantando um pouco a cabeça, repousei-a no seu ombro.

- Isso é tão injusto.

- O que é que é injusto?

- Tu sabes que fica difícil dizer não, quando me olhas assim.

Corei um pouco, mas era, de certa forma, bom saber que eu exercia esse tipo de poder sobre ele.

- O que é que queres, pequena?

- Quero que pares.

Ele prendeu a respiração e enrijeceu o corpo, sabia o que eu iria lhe pedir.

- Eu não posso.

- Porque não? Tu tens escolhas, Ian.

- Para mim, elas não existem.

- Porquê?

- Este… é o meu objectivo de vida. É uma razão para me manter vivo.


-  Mas… Tu agora tens-me a mim.


- Tu és doce demais, Ree. – E beijou o topo da minha cabeça.

- Eu só quero o melhor para ti.

- Eu sei. E eu quero o mesmo para ti.

- Exactamente. – Sorri com perspicácia. – O melhor para mim és tu. Inteiro.

Suspirou e sorriu com os lábios.


- Precisas de esquecer essa vingança.


- Eu vou esquecer – olhou para mim com sinceridade – quando o meu objectivo estiver cumprido.


Tremi involuntariamente ao imaginar a real palavra para “objectivo”.

- Dá para parar? – Alterei o tom de voz e ele ficou assustado.

- Com o quê?

- Não gosto quando dizes ‘objectivo’… parece que…


- Isso faz-te ter medo?

- De certa forma.

- Eu não seria capaz de te maguar.

- Não duvido, mas a maneira como falas...

- Tudo bem, vamos só mudar o assunto. – sorriu e beijou os meus cabelos novamente.

Percebi que tinha que mudar de assunto. Afinal estávamos numa festa.

- Tenho sede. Volto já. Queres alguma coisa? – Abanei com a cabeça para dizer que não

Apesar de meio sombria, senti que esta nossa última conversa fora necessária. Agora eu entendia um pouco mais do seu mundo.

Ao contrário do Ian, eu nunca tinha feito mal ás  pessoa, quero dizer, nada tão mau que desse motivos para me quererem matar. Se fosse só o assalto ao apartamento nos dias anteriores eu poderia supor que era só mais um ladrão á procura de alguma coisa de valor, mas a situação era outra. O ataque ao Sr, Felix deixou bem claro que quem estava atrás de mim não estava para brincadeiras. Depois das dúvidas de quem eram essas pessoas e o porquê disso, outras questões também martelavam na minha cabeça: como poderiam ter entrado lá em casa sem arrombar a porta? Algo muito estranho estava a acontecer.



Ouvi um ruído do lado oposto da rocha. Não era um barulho muito alto porque só consegui ouvi-lo agora que estava quieta e sozinha.
Aproximei-me com cautela da grande rocha ainda mais afastada do local em que estávamos. O barulho ficou mais alto na medida em que eu me aproximava. Rodeei a pedra escura e deparei-me com uma cena que não esperava ver nem nos meus piores pesadelos.Pelo menos, para já.

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publicado por RiiBaptista às 03:09 | link do post | comentar