Capitulo 3 - Sem medo

Olá este capitulo é a primeira aproximaçao do Ian e da Rebecca... 

hoje ainda publico as capas...

 

enjoy

 

 

Ian! – Gritei apavorada com o susto que me tinha provocado. Senti o meu coração a disparar de raiva. Odeio que me assustem. – Não preciso de um ataque cardíaco, ok? – Reclamei bem alto. Começou a riu-se.

- Desculpa, vi a tua amiga a sair e ... pensei que gostasses de companhia.

Ajeitei-me no sofá. Afinal tinha algumas perguntas a fazer-lhe. Uma delas: Porque é que ele veio ter comigo na noite do crime? Dei por mim com uma t-shirt justa branca e umas cuecas verde palido vestidas. Não costumo dormir com muita roupa…

Tapei-me com a manta que estava a meus pés. Ele olhou para mim, não percebeu ao início, mas depois fez um sorriso maroto.


- Porque é que vieste ter comigo na noite do crime? - Perguntei séria.

- Então, porque ouvi barulhos neste apartamento… – disse enquanto se sentava despreocupado na poltrona vermelha á minha frente.


- Mas aqui não aconteceu nada…

- Pois …parece que confundi a origem dos sons.

 

- Uhum ok. – respondi parecendo despreocupada.

Ficamos em silencio algum tempo. Olhei-o discretamente e ele estava a ver atentamente a novela que estava a dar…depois reparou que eu o olhava e fintou-me.


- Onde é que a tua amiga foi? – Mudou de assunto.


- Ás aulas de dança. E depois vai a uma discoteca ou assim…

- E como é que tu vais fazer com o pé?

- Não preciso da Cat, nem do Din. Eu vou  ficar parada aqui…

- Sozinha?

- De que é que estavas á espera? – Para mim era óbvio, claro que iria ficar sozinha.

- Que o teu namorado viesse. – respondeu calma e normalmente... Pensei na maneira que ele tinha chegado à errada conclusão de que eu tinha um namorado. Depois do último desastre de namoro que tive, acho que vou ficar um bom tempo sem ter outro parecido.

- Tens razão… O meu namorado imaginário deve estar a chegar... – Eu juro que vou parar de ser sarcástica, mas é mais forte que eu…


- Que rapariga… - Riu-se

- Mas, porque é que achas que tenho namorado?

- As flores. – E indicou com a cabeça para o vaso de rosas brancas que recebi do Jorge esta manhã.

- Isso não argumenta nada. – Afinal, um vaso de flores pode ter sido mandado por qualquer pessoa, amigo, amiga, familiar ou um simples conhecido. Não sei bem o  motivo, mas adoro discordar com ele.

- Isso quer dizer que eu estou errado?

- Talvez.

Fez uma careta.

- Não deixas passar uma… - suspirou

- E a tua namorada? Não se importa com estas tuas visitas nocturnas ao apartamento da vizinha?

 – Não. – E encolheu os ombros. – Ela é muito liberal.

Eu sabia. O resto da esperança que eu tinha guardada lá no fundo se esvaiu com estas ultimas palavras. Calei-me e passei os minutos seguintes a tentar imaginá-la. Pensei se era alta ou baixa, loira ou morena, modelo fotográfica ou de passarela. Na minha cabeça, também quis tentar descobrir se gostava de animais, se era gentil e solidária, o que tinha de especial que o tinha atraído. A minha mente ainda divagava quando foi interrompida por um ruído. O Ian estava a esforçar-se para segurar o riso, mas sem sucesso.


- O que foi? – perguntei… o que quer que fosse estava-me a irritar.

- Fizes-te uma cara de pânico…


Estive tão concentrada na minha imaginação que nem me lembrei de disfarçar a expressão facial e agir com naturalidade.

- Ei, pára de te rir de mim! – Reclamei e atirei-lhe com a almofada que estava ao meu lado. Num reflexo muito rápido, ele segurou-a no ar, foi ligeiramente impressionante.

- Tudo bem, desculpa. – Pediu, mas ainda estava a conter o riso. – Mas, porque é que ficaste tão assustada? Achas impossível alguém ter-se interessado por mim?

- Bem, á gente pra tudo... – Brinquei. Ele riu e lançou a almofada de volta, eu desviei-me e fiz-lhe um sorriso malicioso.


- Queres chocolate quente? – Ofereceu.

 

- Com este calor?

 

- É, tens razão…então e um gelado?

 

- Pode ser…

Dirigiu-se á janela maior da sala e abriu-a. Saiu para a varanda e começou a subir as escadas exteriores. Antes de desaparecer, lançou-me um olhar atrevido.

Mal voltei a minha atenção para a televisão, ouvi um barulho. Logo depois, Ian apareceu na sala, tinha usado as exteriores (escadas exteriores) de novo para descer.

- A esta hora quem inventou a porta está a virar-se na cova, sabias? – disse irritada. Aquilo começava-me a irritar.

- Assim é mais divertido… – E sorriu ao entregar-me a embalagem de gelado de cereja e uma colher dourada.

- Não vejo como poder cair 6 andares é divertido... – Pensei alto.

- Não vou cair. – Afirmou com tanta certeza que até me deu medo. Pegou na outra colher dourada que trouxe do seu apartamento e enterro-a no pote que eu estava a segurar. Sentou-se, desta vez, ao meu lado. Estremeci quando o senti tão perto. – E então, o que é que está a acontecer? – E acenou com a cabeça em direcção á televisão.

- A Judite quase foi morta.

- E porque? – Parecia estar bem interessado na trama sensacionalista da novela.

- Maria Antónia encontro-a na cama com o marido Augusto…


- E porque é que ela não mata o marido? Ele é que foi infiel. – Perguntou enquanto enchia outra colher de gelado que, ele tinha razão, era mesmo muito bom.

- Então… porque ela ama o marido, e quer ficar com ele... – Para mim era claro que aniquilar a rival e ficar com o marido só para ela, era o plano mais sensato para uma vilã, mesmo que fosse coisa de novela.

- Mas de adianta estar com uma pessoa, se essa não nos ama?

- Como você é que sabes que ele não a ama?

- Porque um homem apaixonado só consegue ver uma mulher. Mesmo que não queira, as outras ficam invisíveis. – Disse ele com a maior naturalidade do mundo.

Uau, OMG…isto sim me apanhou de surpresa. O Ian deveria amar muito a sua namorada. Acho difícil encontrar hoje em dia um homem que acredite no amor único. Aliás, mulheres também. No compasso em que o mundo anda, é difícil encontrar qualquer pessoa que acredite que há mais para além do interesse e da beleza exterior.

Desviei o olhar da televisão para observá-lo melhor, estava distraído com a operação á perna de Judite. Apercebi-me que tinha uma marca no pescoço, e pensando melhor… acho que na ambulância ele estava-lhe a por gelo. Sem pensar bem, passei a ponta dos meus dedos acariciando a pele arroxeada. Ele fechou os olhos e estremeceu. Fiquei surpresa com essa reacção. Depois de algum tempo, ele sorriu e virou-se para me olhar.

- Tens a mão gelada.

- Desculpa. – Percebi que a tonta, eu, tinha usado para tocá-lo a mão que poucos minutos atrás estava a segurar o pote de gelado.


- Tudo bem, foi divertido. – Ergui a sobrancelha em sinal de dúvida. – Arrepiante. – Completou.

Aproveitei-me para me vingar dele, e então, em vez de lhe passar só com os dedos, encostei a mão toda ao seu pescoço. Ri maliciosamente.

- Agora, isso foi cruel. Tu tens sorte por teres o pé engessado.

 

E comecei a pensar no que é que ele me faria se eu estivesse de plena saúde… Assustador :D

- O que é que queres fazer agora? – Perguntou enquanto dava a canção de final de novela.


- Não sei... – Quis pensar em qualquer coisa que pudéssemos fazer sem sair dali.

- Queres jogar ao “Tu preferes”?

- Como é que é isso?

- Tu preferes comer um leão dourado frito ou usar um chapéu para resto da vida?

- O quê? – Perguntei indignada. – Porque é que alguém iria comer um leão dourado?


- Escolhe logo.

- Não tem terceira opção?

- Não.

- Comeria o leão.

- Porquê? – Perguntou espantado.

- Porque é passageiro, e aliás, não gosto de chapéus. E tu? Prefere arrancar a própria perna ou entrar aqui pela porta?

Riu-se.

- É uma escolha difícil a se fazer... – Brincou. – Preferes casar com um rico feio ou com um pobre bonito?

- Com o que gostar mais de mim. Preferes viajar para onde quiseres ou ter toda a comida que quiseres?

- Hum... Acho que prefiro viajar. Gosto de lugares novos. Tu preferes chocolate ou gelado?

- Ah, essa foi difícil. Chocolate, acho. Não, gelado. Ah, sei lá. Qual é que tu preferes?

- Gelado, mas tem que ser de cereja. Preferes loiros ou morenos?

- Uma mistura, pálidos de cabelos escuros. – Respondi automaticamente e, só depois de falar, apercebi-me que estava a olhar para alguém assim. Ele pareceu ter percebido também, então repeti a pergunta para me livrar do constrangimento. – É a minha vez. Preferes miúdas de cabelos claros ou escuros?

- Cabelos claros, e adoro encaracolados. Olhos castanhos meios verdes e pele clara.

Olhei-o nos olhos cor de oliva por alguns instantes quando ouvi a minha descrição chapada. Ele estava a ser hipócrita...mesmo a ter namorada, estava a fazer-me esta indirecta. Mesmo que tenha sido muito fofa e querida, não era acertada. Ainda sabendo que não era correcto, perdi-me nas chamas verdes que seus olhos exalavam.

- Acho melhor... Acho melhor jogarmos outra coisa. – Sugeri quando finalmente consegui desviar e olhar para baixo.

- É... – Pareceu concordar, nós já estávamos a levar muito para o lado pessoal. – Cruzadas?

- Vamos! – Achei a ideia das Cruzadas espectacular, fazia tempo que eu não jogava. É um jogo simples cujo objectivo é usar as letras que são dadas para cruzar palavras num tabuleiro numerado, muito divertido.

- “Jatuleiro” não é uma palavra! – Reclamei, e com razão.

- Claro que é!

- Então o que significa? – Desafiei-o sabendo que não havia resposta.

- Sei lá, não sou um dicionário.

- Ah, tira isso daí e joga sem batotices. – Ele riu-se da tentativa fracassada de fazer batota. Ninguém faz de mim parva.

- Tu és muito stressada, sabias?

- É verdade. E tu és muito atrevido.

- Não sou nada... – Contrariou.

Levantei a sobrancelha em resposta, não iria discutir, afinal, só o conhecia há dois dias.

- Sou? – Pareceu indeciso e mostrou-se receoso de eu tê-lo achado inapropriado.

- Sei lá! Eu mal te conheço.

- Eu já me apresentei…

- Saber o teu nome, que gostas de gelado de cereja, que tens uma irmã chamada Miriam e um amigo chamado Kyle… não é saber muito.


- Ok, vamos fazer assim. Hoje vou responder a qualquer pergunta que me fizeres.

- Qualquer uma? – Quis ter a certeza de que ele não iria inventar desculpas depois.

- Qualquer uma. – Reafirmou recostou-se no sofá.

Tinha tantas perguntas a fazer que tive que reflectir por algum tempo qual seria a primeira. Na dúvida, resolvi começar pela mais simples.

- Moras com a tua irmã. – afirmei

 

- Isso não é uma pergunta…

 

- Calma, deixa-me terminar… - ele era impaciente -Tens mais família?

- Não tenho mais irmãos e os meus pais morreram num acidente de carro. O nosso único parente vivo é o meu avô, que nos criou até completarmos a maioridade, desde ai nunca mais nos separamos.

Fiquei surpreendida, ele partilhava a minha mesma dor, a perda dos pais. Talvez tenha sido essa ligação que me chamou a atenção nele, como eu, ele carregava a mesma dor no interior da alma.

- Desculpa... – Disse com sentimento verdadeiro.

- Não á problema, já fez sete anos. – Respondeu friamente. No fim das contas, não parecia sofrer muito, mas provavelmente só disfarça bem a dor.

- Aconteceu o mesmo comigo... Perdi os meus pais á cinco anos…


- A serio ? – Ficou muito interessado.

- Sim, levaram um tiro por engano quando passavam próximos a um assalto.


- Sinto muito, Rebecca. – Acariciou os meus cabelos com solidariedade. Era estranho ela chamar-me de Rebecca, normalmente era sempre por Ree.

- Trabalhas em quê? – Quis mudar de assunto antes que começássemos os dois a chorar. Ao contrário dele, eu não conseguia disfarçar o sofrimento da morte dos meus pais.


- Não trabalho… – Eu ia perguntar comom é que ele vive, mas achei que poderia soar rude e interesseiro. Ele adivinhou a pergunta. – Vivo com a herança que recebi dos meus pais quando completei os 18 anos, é o suficiente por algum tempo.

Imaginei que a quantia deveria ser bem alta, já que fazia tanto tempo que eles se foram e o dinheiro ainda durava…

- Mas então como é que ocupas o teu  tempo? – Pensei no que eu faria se não trabalhasse e tivesse o dia todo para fazer o que quisesse. Acho que ficaria louca…mais ainda.

- Escrevo.

- Poesias? – Saiu. Deu uma risada sarcástica.

- Sou frio demais para poesias. – Quis fazer uma objecção, não o achava frio, mas ele continuou. – Escrevo contos de terror ou policiais. Também faço as ilustraçoes. Estou a trabalhar num livro que quero publicar.

- Se eu comprar um, dás-me uma autografo?

- Claro que sim.

- Sabes conduzir? – Escolhi uma pergunta ao calhas. Olhei para a janela e vi as luzes dos carros na cidade, já era noite. Ele estranhou a pergunta.

- Claro, quem não conduz? – Ok , esta magoo-me… EU não conduzo. Olhei para o chão, a tentar disfarçar. Sem sucesso.

- Conduzes? – perguntou devagar.


- Não. – Rápida e simples. Não conduzo devido ao facto de não saber se tinha coordenação motora suficiente para controlar um carro. Além do medo, era muita responsabilidade sobre as vidas de todos os piões que estivessem num raio de 10 km.

- Também tenho uma moto.- Ele não tinha mesmo medo de nada, já me começava a irritar.


- Não tens medo?

- De quê? – Ou era eu muito medricas, ou ele era incrivelmente valente.

- De andar de moto, andar em exteriores correndo o risco de cair seis andares, enfrentar uma assaltante, essas cenas todas.

- Não sinto medo, Ree. – Não pareceu estar a brincar quando disse aquilo. Disse o meu nome de uma forma, diferente.

- Toda a gente tem medo de alguma coisa, Ian

- Eu não.

Não acreditei, haveria de ter algum medo. Nunca conheci ninguém que não tivesse medo de nada.

- De nada?

- Não.

- Impossível.

- Do que é que tens medo?

Reflecti um pouco, eu sabia que tinha medo de muitas coisas, não sabia por onde começar quando a pergunta era, assim, tão objectiva.

- Tenho medo de aranhas, cobras, lagartos, guaxinins... – Foi o que pude pensar com uma pergunta tão repentina.

- Guaxinins? – E riu debochado. Não parava de rir. – Que medos sem jeito nenhum.

Quis responder que iria mergulhá-lo numa piscina de aranhas para ver sua reacção, mas achei melhor pensar noutro medo menos idiota.

- Temo o tempo.

- O tempo? – Perguntou interessado.

- Sim. Tenho medo do tempo acabar e eu chegar lá e olhar para trás e não sentir que valeu à pena. De sentir que foi tudo uma perda de tempo, que eu poderia ter feito mais coisas ou menos coisas, que poderia ter dado valor a quem não dei. Temo morrer sem ter vivido. – Desta vez ele ficou pensativo. Ficou calado por algum tempo.

- É uma coisa a reflectir. O que mais?

Pensei na coisa que mais me amedrontava diante todas as outras. O que me trazia mais pânico, o que tinha mais poder sobre mim. Lembrei-me do dia em que o Din disse o que tinha acontecido com os pais. Também me lembrai de um dia que o Din levou uma sova de uns colegas, não tinha levado muito, os amigos dele ajudaram-no, mas ficou um pouco mal. Aquilo sim era o que eu mais temia.

- Tenho medo que me deixem, que me desiludam, que me traiam e claro, tenho medo da dor, tanto da física, como a psicológica. Prefiro morrer a sofrer.

- É eu sei o que isso é. – Respondeu, pensei na sua irmã Miriam. Seriedade e frieza espantosas.

Não sou muito boa com palavras de consolação, ninguém me consolou quando perdi os meus pais, não aprendi o que se deve dizer nessa situação. Além do fato que o Ian deixa-me desconcentrada, não queria criar outro momento constrangedor entre nós. Então somente passei a mão, delicadamente, no seu ombro largo e forte enquanto ele olhava para frente, absorto em pensamentos profundos. Quando sentiu o meu toque, virou-se e, brevemente, deu um leve sorriso sem mostrar os dentes.

- Hora de ir dormir.

- Dormes cedo. – Estranhei.

- Eu não, tu. – Corrigiu e, antes que eu pudesse entender o sentido da frase, já estava no seu colo.Carregou-me de novo como se eu fosse uma almofada. Desviou-se da enorme bagunça que se acumulava no chão do meu quarto, não tive tempo de arrumar tudo esta tarde. Deitou-me na cama como um pouco de agressividade, pelo que pude perceber, Ian não era muito delicado. Apesar de ser um artista e tal, parece que não tinha controlo sobre a própria força. O impacto fez o meu pé doer um pouco, mas não reclamei. Cobriu com um lençol que estava dobrado.

- Posso fazer só mais uma pergunta? – Lembrei-me da pergunta mais essencial que eu tinha-me esquecido completamente de perguntar.

- A última. – Respondeu já perto da porta e do interruptor.

- Se não estavam atrás do Sr. Félix, se foi tudo um engano, quem é que estavam  a perseguir?

- Não tenho certeza, mas creio que seja eu. – Respondeu com a naturalidade de quem diz que um mais um é dois.

Fiquei estupefacta, o que é que o Ian tinha feito? Porque é que estava a ser procurado? Quem e porque o queriam matar?

- Porquê? – Perguntei em tom alto e assustado. – Tens que comunicar a polícia! Isso é sério, Ian, tu tens que denunciar, fazer alguma coisa! O que é que está a acontecer? Porque é que te querem matar?

- Prometes-te que era a última pergunta. - Lembrou sorrindo antes de apagar a luz - Não vai acontecer nada comigo.

Disse isto com tanta certeza na voz que acreditei.

 

- Ah – disse um pouco antes de fechar a porta – Eu estava a brincar quando disse que tinha namorada. Sou muito frio para isso. Boa noite, Ree – Saiu em passos de gato, sem fazer barulho.

Demorei horas para adormecer. Os meus pensamentos giravam em círculos na cabeça em torno do nada. Começavam no duvidoso e levavam nada. As ideias estavam a lutar para se sobressaírem umas sobre as outras a procurar prioridade na minha mente.

Depois de um tempo, escutei o Din e a Cat a chegarem, tentaram fazer pouco barulho, mas não adiantava, eu ainda estava acordada. A ideia de que o Ian corria perigo de morte artordoava-me totalmente e o facto de não ter namorada, uma coisa boa, não diminuía o desespero que senti ao imaginá-lo ferido.

Não tinha a certeza se estava apaixonada, mas era a primeira vez que alguém que eu conhecia há tão pouco tempo me deslumbrava desta maneira avassaladora. Apesar do Ian ser tão divertido, havia uma angústia e um certo ódio escondido por trás dos olhos esmeralda. Havia perigo, imprevisto, uma emoção nova, algo que quebrava a rotina em que eu não aguentava mais viver. A expectativa de aventura que o Ian carregava nos olhos hipnotizavam-me por completo e eu precisava daquele olhar, estava viciada totalmente.

A possibilidade do risco que ele corria aterrorizava-me de uma maneira que não achei que fosse possível, ao mesmo tempo, a probabilidade do perigo aumentava a minha curiosidade, a minha imaginação sobre os motivos que levaram à sua perseguição fazia o meu sangue correr mais rápido. Afinal, eu não sabia porque é que queriam matá-lo, eu não o conhecia tão fundo e nem sabia do que era capaz. Ele poderia ser um criminoso, poderia ter matado alguém, isso explicaria o motivo de não ter ido à polícia, mas a possibilidade de ele ser um assassino não me trazia medo, ao contrário da possibilidade de perdê-lo.

Quando o sono finalmente veio, o pesadelos acompanharam-no. Imagens abstractas misturavam-se com imagens nítidas de sangue espalhado por um corredor de pedra. Contemplei, não Ian, mas o meu próprio corpo estirado sobre o chão frio e molhado na escuridão. Estava sozinha, como sempre receai morrer, deitada sobre meu próprio sangue, mas a satisfação mostrava-se na minha cara. Eu não parecia nem um pouco chateada com o ataque. Depois a imagem, como que colada dum álbum de fotografias, transformou-se numa outra desbotada onde pude ver, desta vez, Ian preso dentro de uma espécie de jaula metálica. Feridas profundas eram visíveis nas suas costas e no seu peito descoberto. Ele segurava nas grades com uma expressão de terror profundo, como disse ser incapaz de sentir. Fiquei mais apavorada com essa segunda figura que com a primeira. Depois dessa, várias outras se passaram, misturando o real e o absurdo de uma maneira obscura.

A figura de uma cobra que corria atrás da própria cauda materializou-se na minha mente. O réptil ficava mais rápido a cada segundo sendo possível observar, no fim, apenas uma fumaça amarela em forma de anel. A criatura rastejante, então, cravou a as próprias presas em si mesma antes de me dizer com um sussurro seco e áspero:

- Rebecca, anda lá. Preciso de ti...

Então a fumaça foi lentamente desaparecendo no meio do corredor onde a cobra se encontrava…

 

 

 

comentem se gostaram ou nao :D

sinto-me: FELIZ
música: the ghost of you . my chemical romance
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publicado por RiiBaptista às 15:59 | link do post